Capes fomenta pesquisas multidisciplinares das artes à ciência de ponta, com resultados de dimensão internacional. Cesar Baio, bolsista em nível de pós-doutorado na Inglaterra, é indicado ao Prêmio Lumen de arte e ciência

A arte contemporânea é uma arte multidisciplinar e se relaciona com a ciência de ponta. Hoje temos artistas desenvolvendo projetos em campos com a Inteligência Artificial, engenharia genética, e até ambientes híbridos, que combinam sistemas naturais e computacionais.

Cesar Baio, um artista que é professor da Unicamp e bolsista da Capes na Universidade de Plymouth, na Inglaterra, está trabalhando em um projeto, Culturas degenerativas, com Lois (League of Imaginary Scientists), que é um bom ponto de partida para falar das relações entre arte e ciência de ponta.

Culturas degenerativas cria uma rede “biohíbrida” em que microorganismos vivos e inteligência artificial trabalham juntos. 

Em uma instalação interativa, livros que documentam o impulso humano para controlar e remodelar a natureza são usados para o crescimento de fungos. Os livro que sustentam a instalação são literalmente comidos por fungos. O texto é destruído em um sentido físico e desaparece das páginas. 

Esse processo é analisado por um programa de visão computacional que alimenta um algoritmo de leitura baseado no processamento de linguagem natural. 

O algoritmo procura na Internet por textos que seguem os mesmos padrões dos que foram apagados e os publica no Twitter, via o perfil do projeto nessa rede social.

O projeto concorre ao Prêmio Lumen de arte e ciência, um prêmio internacional de uma instituição inglesa. A votação on-line está aberta até o dia 1o de setembro.

Cesar desenvolveu o projeto, durante sua residência na Universidade de Plymouth. Trabalhou com Lucy HG Solomon do Laboratório de Ciência Imaginária (Lois), uma equipe multidisciplinar dos EUA, tendo contribuições de Jeremy Speed Schwartz (também artista do Lois) e de Scott Morgans (biólogo).

Sua residência artística nessa universidade só foi possível porque ele foi contemplado com uma bolsa de pós-doutorado da Capes — Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. 

É um bom exemplo da relevância do fomento público às pesquisas e das perdas que ameaças de corte no orçamento da Capes, como as que circularam semana passada, significam. Inovação e conhecimento dependem de investimentos nas áreas de educação e cultura. Deveriam ser tratadas como áreas prioritárias e não como resíduos e elementos supérfluos. 

Nesse sentido, a imagem que fica do projeto Culturas degenerativas, funciona aqui como um alerta, já que torna visível os padrões entrópicos da cultura humana que nos levaram ao Antropoceno e o vazio que emerge com a corrupção do conhecimento. 

E por falar em conhecimento, arte e educação, termino lembrando que hoje, dia 6 de agosto, é o último dia para inscrever-se no Prêmio seLecT de arte/educação, voltado a artistas e formadores e que contemplará dois vencedores – um em cada categoria – com 20 mil reais. 

Transcrição da coluna Ouvir Imagens, de Giselle Beiguelman, veiculada toda segunda-feira, às 8:00, pela Rádio USP (93,7).

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