O debate sobre a suposta “ideologia de gênero” ataca uma série
de liberdades que marcaram o processo de democratização do espaço
público. Como a arte reage a esse processo?

Respondo apresentando uma exposição, em cartaz na Casa da Imagem
com curadoria de Henrique Siqueira e Monica Caldiron, que discute a
manifestação do amor, sedução e sexualidade nos espaços públicos de São
Paulo, e como a cidade reagiu a estas questões nos últimos cem anos.

A exposição tem o sugestivo nome SÓLOVE, um bordão que ficou famoso a
partir de uma música da dupla Claudinho e Buchecha, ícones históricos do
funk carioca, uma manifestação cultural associada aos bailes e às danças
carregadas de eroticidade.

Divida em módulos temáticos, a exposição aborda, com imagens de Artistas
convidados e obras do Acervo Fotográfico do Museu da Cidade e de outras
instituições, os espaços do flerte, os territórios do sexo extraconjugal, como
os cabarets, do início do século 20 e os motéis dos anos 1970 em diante, e a
emergência das diferenças, com as pautas relacionadas à afirmação da
identidade e das políticas de gênero, que marcaram profundamente o fim dos anos 1970 e os 1980, chegando às novas plataformas de ativismo que
emergem com a Internet.

Novas identidades e velhas lutas

As imagens reunidas em SÓLOVE compõem uma cartografia da
sexualidade, indo de lugares públicos como a antiga Ilha dos Amores, onde
hoje fica o Parque Dom Pedro, até as políticas de controle da visibilidade do
sexo e as manifestações que trouxeram para as ruas as reivindicações da
mulher e da diversidade de gêneros.

João Barim e Tamara Barim. Reflexões do gênero, 2016

Entre outros momentos, a exposição mostra fotos e ensaios que
documentam a delimitação de uma área de tolerância à prostituição no bairro do Bom Retiro durante o Estado Novo, bem como a repressão à prostituição durante a Ditadura Militar na Boca do Lixo e Boca do Luxo, registrada por Juca Martins na década de 1970, e as ruas tomadas pela Parada do Orgulho Gay.

SÓLOVE fica em cartaz na Casa da Imagem até 7 de Julho e, no atual contexto político em que estamos vivendo, é uma mostra urgente e necessária.

Imagem de abertura: Lula Ricardi, Hotel 66.

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