Incêndio da Catedral divide especialistas e na área de patrimônio histórico

O incêndio da Catedral de Notre-Dame nos faz pensar imediatamente no significado social do patrimônio e nas políticas públicas relacionadas à cultura.

Poucas horas depois do ocorrido, mais de 3 bilhões de reais foram captados para sua reconstrução, por meio de doações de empresários e bilionários, inclusive uma brasileira. Esse gesto, louvável, diga-se, mostra que, de certa forma, no exterior, as elites se sentem obrigadas a retribuir à arte e à cultura a posição socioeconômica que alcançaram.

Isso é algo que não encontra paralelo por aqui. Para você ter uma ideia, até hoje, o montante recebido pelo Museu Nacional, que também foi destruído em um incêndio, em setembro de 2018, recebeu, via doações individuais, míseros 150 mil reais em, ou seja, 0, 034% do valor doado a Notre-Dame em horas…

Mas não devemos esquecer que uma lei francesa permite que 60% desse valor captado seja abatido do seu imposto de renda. Esse benefício é fundamental. E nos faz atentar para a importância de leis como a Rouanet, um dos alvos dos ataques que vem sendo feitos à produção artística e cultural no Brasil.

Mas uma vez captado esse dinheiro, outra polêmica se abriu deve-se reconstruir a Catedral ou renová-la?

Esse é um tema que divide os especialistas e a polêmica tem raízes mais antigas, pois outros marcos arquitetônicos já passaram por esses processo.

A discussão que se coloca é em torno da noção de autenticidade, pois dentro de uma abordagem contemporânea do patrimônio histórico, leva-se em conta também aspectos imateriais, como a tradição, as formas de uso ou a função de um monumento ou bem tombado.

A reconstrução, em busca de uma autenticidade original, poderia significar, paradoxalmente, um apagamento das camadas do tempo, justificando projetos que funcionam mais como cartões-postais que como testemunhos da cultura material e imaterial que carregam.

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