Rádio USP, Ouvir Imagens, 15/04/2019

Acaba de sair pela editora Ubu o livro Depois do Futuro, do filósofo italiano Franco “Bifo” Berardi. É leitura mais que oportuna neste nosso Brasil em que as tragédias e catástrofes nos confrontam diariamente. De incêndios a enchentes, passando por assassinatos e execuções, sem falar no desmonte das políticas públicas relacionadas ao meio ambiente, à cultura e à educação, tudo nos faz perguntar onde ficou o futuro?

O livro de Berardi foi escrito em 2009, na época do centenário do Manifesto Futurista. Parte de uma análise do século 20, o século que acreditou no futuro, na potência da indústria, na revolução tecnológica, para compreender o momento em que essa sensação que o futuro acabou começa a se implantar. A bolha da economia Internet e a precarização das relações de trabalho, a vigilância algorítmica são elementos estratégicos nesse processo de desencanto com o que virá.

Mas apesar de tudo conspirar para um estado de depressão coletiva, o livro não exalta esse tipo de conduta. Sem nenhuma ilusão eufórica é um chamado à atitude crítica em relação ao presente, apostando em uma era pós- futurista.

Berardi não acredita que os novos movimentos de direita expressem uma retomada do fascismo. Para ele, o sentimento que prevalece hoje é de melancolia. Diz que a antiga metáfora do Iluminismo foi virada do avesso e expectativa moderna de expansão constante das luzes foi substituída por outra, um “Iluminismo obscuro”. Esse “Iluminismo obscuro” é a expressão que melhor sintetiza, segundo Berardi, “a percepção atual do futuro como algo que ameaça o programa humanista.”

No prefácio que escreveu especialmente para edição brasileira Berardi afirma:

“Desde a época do Manifesto Futurista, a potência sexual e a agressividade política estavam conectadas na imaginação fascista. Mas o fascismo foi expressão de pertencimento: a mitologia envolvendo sangue e nação era baseada em um verdadeiro senso de comunidade. Agora não mais. Hoje, pessoas que votam em partidos nacionalistas cresceram na era do individualismo desenfreado, confiaram nas promessas do egoísmo neoliberal e se descobriram perdedoras. Agora é tarde demais para abraçar uma nova esperança, uma nova imaginação: a única coisa que conseguem fazer é compartilhar seu ódio e seu desejo de vingança.”

É a nossa conhecida Odiolândia… Daí ser o “niilismo o nome da cultura emergente,” nas palavras de Bifo Berardi.

Franco Berardi. Depois do Futuro. Ubu Editora.

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