Goodbye iSlave, livro de Jack Linchuan Qiu, discute os escravos do celular do ponto de vista dos regimes de produção nas fábricas e dos mecanismos que criam a dependência do aparelho. Foi tema da minha coluna Ouvir Imagens, na Rádio USP, dia 30/4. Falei também de Radical Technologies, do urbanista e escritor Adam Greenfield, que propõe usos críticos da tecnologia para a transformação política. Em Tempo: Greenfield vem ao Brasil em Novembro. É convidado do IAU-USP e participa do SigraDi 2018.

As pessoas estão cada vez mais presas aos seus celulares. São incontáveis as transformações que esse pequeno dispositivo multitarefa trouxe ao nosso cotidiano. O celular é quase uma extensão dos nossos corpos. É agenda, meio de comunicação, banco, espaço de trabalho, de leitura, mapa, câmera fotográfica, álbum, rádio, gravador, enfim, uma espécie de controle remoto urbano e que funciona até como telefone.

A dependência que criamos do celular é tamanha que os psiquiatras identificaram há alguns uma síndrome específica: a Nomofobia, o pânico de ficar sem celular. O nome vem do inglês: No mobile phone phobia.

Jack Linchuan Qiu, Professor da Universidade de Hong Kong, identifica aí um sintoma de um processo mais complexo. No seu livro Goodbye iSlave: a Manifesto for Digital Abolition analisa as formas de produção na indústria da mobilidade relacionando-a duplamente à escravidão: pelos de trabalho forçado e por fabricar “iSlaves”, ou escravos do celular.

Qiu propõe, no fim do livro, algumas formas de resistência. Uma delas promover uma forma de conteúdo gerado pelo trabalhador, em contraposição ao conteúdo gerado pelo usuário (user generated content), tão acalentado pelo mercado de mídias digitais. Outra é incentivar um uso crítico das redes sociais e dos dispositivos. Por fim, apostar em indústrias mais éticas, como a bem sucedida Fairphone da Holanda, que recicla equipamentos, garante regimes de trabalho justos e uso de materiais certificados, cuja produção respeita o meio ambiente e os direitos humanos.

Outro autor bastante interessante que vem pensando outras políticas para as tecnologias emergentes que não sejam mera reprodução dos arranjos de poder é Adam Greenfield. Em seu último livro, Radical Technologies, ele faz um mapeamento das principais tecnologias que estão modificando o nosso cotidiano, como os smartphones, a Internet das Coisas, a Realidade Aumentada, Criptomoedas, Automação, Machine Learning, Fabricação Digital e Inteligência Artificial.

Analisa, por um lado os impactos culturais e sociais da verticalização e concentração de serviços nas mãos de algumas poucas empresas como Google, Facebook, Amazon, e aposta suas fichas numa célebre frase do pioneiro da tecnologia, o engenheiro Adam Kay, que dizia: “a melhor forma de prever o futuro é inventá-lo.”

Partindo desse pressuposto, Greenfield imagina cenários em que o uso radical da fabricação digital, combinada à Internet das Coisas, utilizando software de código aberto poderá alterar profundamente a cadeia produtiva, diminuindo a pobreza e fazendo emergir o comum em escala planetária.

Greenfield vem ao Brasil em Novembro. É um dos keynote speakers do Sigradi, congresso internacional de arquitetura, urbanismo, design e arte digital realizado neste ano no IAU, Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos.

Good Bye iSlave: A Manifesto for Digital Abolition

Jack Linchuan Qiu

Fairphone

Radical Technologies: The Design of Everyday Life (Verso, 2017)

Adam Greenfield

SigraDi2018

Ouça esta coluna: