The Ballad of Buster Scruggs, novo filme dos irmãos Coen, revela impacto do digital e conta seis histórias de faroeste

Assisti The Ballad of Buster Scruggs, o último filme dos irmãos Coen, que estreou em Cannes e foi liberado recentemente na Netflix. O filme é excelente, o que não é uma grande surpresa quando se fala de Joel e Ethan Coen.

A novidade é o filme ter sido produzido pela Netflix e a incursão dos Coen no mundo da imagem digital e de certa forma orientado para a tela pequena. Seja ela a do computador, do tablet, celular ou tevê da sala de estar.

Do ponto de vista estético, The Ballad of Buster Scruggs repete alguns elementos que são marcas da maestria dos irmãos Coen, como a fotografia impecável e grandes planos de paisagens. Porém o filme tem uma paleta que explicita a presença do digital, na artificialidade do colorido das imagens que varia entre os tons de amarelo, azul e verde.

Isso se repete nas seis histórias independentes que compõem o roteiro, ganhador do Festival de Veneza nessa categoria. Chegou-se a especular que o filme seria uma série quando exportado para a Netflix, fato que não se confirmou. Contudo, o formato de histórias que se fecham em si, favorece o espectador de séries.

Onde os fracos não têm vez

Todas as histórias se passam no Oeste dos EUA e são absolutamente sórdidas, ainda que temperadas pelo indefectível humor mórbido da dupla. Um humor que flerta de certa forma com o humor judaico nova nova-iorquino, de origem ashkenazi, ou seja, da Europa, que tem essa queda para a autoironia e fundamenta o tipo de humor negro dos Coen.

Quem é fã, como eu sou, dos irmãos, reencontrará o embate que sua filmografia faz com o DNA cultural dos EUA pelas lentes de um faroeste imaginado. Um país sem lei e sem dono, “onde os fracos não têm vez” (ou no country for old men).

O elenco é estelar. Tem Tim Blake Nelson, James Franco, o músico Tom Waits… e é basicamente masculino. Esse é outro trunfo do filme: a forma como explora um universo tremendamente machista que beira os limites do patético.

Faltou, portanto, Frances McDormand, estrela de vários dos filmes dos irmãos e esposa de Joel Coen. No mais, aquela ficha técnica tão peculiar: direção Ethan e Joel Coen, Roteiro: Joel e Ethan Coen. Montagem: Roderick Jaynes, pseudônimo dos irmãos Coen.

Transcrição da coluna Ouvir Imagens, de Giselle Beiguelman, veiculada toda segunda-feira, às 8:00, pela Rádio USP (93,7).

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