O século 21 entrará para os livros de história como marco zero da era do pós-virtual. Uma era em que as redes se tornaram tão presentes no cotidiano e que o processo de digitalização da cultura tornou-se de tal forma abrangente, que se tornou anacrônico pensar na dicotomia real/virtual.

O mundo da Internet das Coisas já se anuncia no presente e a interação mediada por dispositivos de conexão é sua senha de acesso. Pequenos celulares que habitam nossos bolsos nos ciborguizam e expandem nossos corpos para além do aqui, inserindo-nos num tempo de eterno agora.

Telas flexíveis e de diferentes portes remodelam as noções de espaço doméstico e privacidade e aplicativos de Realidade Aumentada inserem camadas de informação no ambiente urbano, redefinindo o espaço público.

Vivemos mediados por redes sociais, como Twitter e Facebook, e a Internet se consolida como um dos palcos privilegiados de controle, consumo e mobilização política.

Nesse contexto, interação e interatividade tornam-se palavras mais que recorrentes. Invadem o discurso publicitário e transformam-se em commodity da indústria de informática e das telecomunicações e consolidam-se como uma das dimensões da sociabilidade mediada e midiatizada que sustenta redes de relacionamento como o Facebook e afins.

Isso faz com que produzir, avaliar e refletir criticamente sobre projetos artísticos alinhados sob a rubrica da “interatividade” transforme-se em um desafio e uma tarefa complexa. Afinal, em um mundo em que do telefone ao aparelho de TV, passando pela geladeira, tudo promete interação e conexão, o que pode ser digno de nota e reflexão.

O que já não foi entregue e prometido pelos sedutores gadgets que nos rodeiam e pelas instâncias corporativas por meio das quais expressamos e construímos nossas subjetividades?

Essas perguntas estiveram presentes nas discussões feitas pelo Júri da categoria Arte Interativa do Prix Ars Electronica 2011, do qual fiz parte. Foram pontos de partida de uma reflexão e de um processo de seleção que privilegiou projetos capazes de problematizar de forma crítica e criativa os usos das mídias e das redes, tensionando o campo da interatividade para além da mera aplicabilidade embutida nos seus projetos industriais.

Obras que são projetadas não como objetos em si, mas como dispositivos, estratégias de operação, planos e ações de multiplicação dos sentidos e repertórios. Obras capazes também de propor novas dinâmicas perceptivas, cognitivas, estéticas e políticas. Obras que se propõe repensar e a interatividade no campo do agenciamento do desvio e da inteligência distribuída. Obras artísticas orientadas não para a capacidade de serem “empowered” pelos seus usuários, mas direcionadas para o “empowerment” de seus interatores.

Na apresentação que faço hoje no Itaú Cultural, comento um conjunto de obras e artistas que, de formas bastante, diferentes, operam nessa direção crítica, propondo deslocamentos da noção de interatividade para a de agenciamento.

Os slides da apresentação estão em:

Mais informações sobre o evento aqui
Imagem: Face to Facebook – Hacking Monopolism Trilogy. Alessandro Ludovico e Paolo Cirio, 2011.
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  17. julio cesar moreira

    junho 30, 2011 at 17:42

    cara prof. giselle

    estive presente em sua palestra no itau cultural, e não encontrei referência ou link sobre o trabalho dos jovens japoneses nas sua notas publicadas.
    fiquei muito interessado.

    att,

    julio cesar

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