Monica Zarattini faz releitura da Guerra de Canudos e das tecnologias de imagem à luz dos conflitos contemporâneos

O projeto Plano, seco e pontiagudo da fotógrafa Monica Zarattini contempla questões relacionadas às transformações das tecnologias fotográficas e reflexões sobre o Brasil contemporâneo e sua história.

Inclui um livro, feito a partir das imagens de duas viagens ao sertão da Bahia, onde ocorreu a Guerra de Canudos e inclui também uma exposição. Com fotos de 2 a 7 metros, a exposição é feita na fachada de vários prédios ocupados no centro de São Paulo e poderá ser vista a partir da próxima segunda-feira dia 18. A mostra completa, incluindo projeções, inaugura dia 23, na festa junina da Ocupação 9 de julho.

A montagem das fotos nas fachadas começa no dia 16 e, segundo Monica, promete ser um acontecimento em si, dada a escala das imagens.

A primeira viagem para a realização desse projeto foi feita em 1989, quando Monica trabalhava no jornal O Estado de S. Paulo, e foi enviada para fazer as fotos para um suplemento comemorativo dos 80 anos da morte do escritor Euclides da Cunha.

Euclides da Cunha cobriu para o jornal O Estado de S. Paulo o fim da sangrenta Guerra de Canudos, na qual estima-se que morreram 25 mil pessoas, 20 mil das quais civis. Foi essa cobertura deu origem a uma das obras máximas da literatura brasileira, Os Sertões, republicado recentemente em edição primorosa da Ubu Editora.

A segunda viagem, feita em 2016, pertencia já ao contexto de um projeto autoral, no qual ela refez o mesmo percurso da primeira, porém utilizando diferentes tecnologias fotográficas, que vão do analógico ao digital, passando por filmes inframervelho vencidos.

Essas três tecnologias de imagem que foram utilizadas no trabalho, analógico P&B, da primeira viagem , o digital colorido de 2016, e as fotos de paisagem feitas com os filme infravermelho vencidos, criam uma superposição de temporalidades que nos insere em uma trama de permanências e transformações, que atravessa não só a paisagem, mas a vida e o cotidiano nos últimos 30 anos no Brasil.

Além disso, reverberam tensões que se recolocam há mais de um século, desde o acesso à infraestrutura até a posse da terra. Esses cruzamentos são o mote da sua exposição nas fachadas dos prédio ocupados no centro de São Paulo. (No álbum abaixo e no destaque você vê algumas).

Plano, seco e pontiagudo não traça uma linha de continuidade direta entre a Guerra de Canudos e os movimentos sociais por moradia, a quem Monica dedica seu livro. Mas cria paralelos entre essas situações para desencadear uma rede de debates, capaz de mobilizar a um só tempo memórias históricas e desejos de um outro presente.

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