A rede social MySpace, sobre a qual há muito tempo não se ouvia falar, perdeu muitos arquivos na semana passada. Com isso, se apaga uma parte da memória das redes.

Capítulo fundamental da música on-line e uma das primeiras redes sociais da Internet, essa perda de arquivos significa que uma parte da história cultural recente foi deletada.

Semana passada, no seu site, um breve comunicado anunciou que devido a um problema ocorrido durante uma migração de servidores, tudo o que fora ali arquivado há mais de três anos poderia não estar mais disponível . E finalizava: “Pedimos desculpas pelo inconveniente.”

Ora isso é muito mais que um inconveniente. É bom lembrar que o MySpace, em 2006, chegou a ser mais consultado que o Google nos EUA! Nomes de peso hoje no mundo do entretenimento e da música pop começaram sua carreira lá, desde ídolos como Justin Bieber e a cantora Adele e Lily Allen.

E a perda não é relevante só porque os primórdios da história desse artistas começou no MySpace. Praticamente tudo que foi disponibilizado e armazenado nesses servidores, entre 2003 e 2015, o que quer dizer cerca de 50 milhões de arquivos de áudio, além de vídeos e fotos, se perdeu.

Memórias e nichos de mercado

Há exatamente 10 anos atrás, testemunhamos o fim do serviço de hospedagem gratuita Geocities. Fundado em 1995, quando a web deixava de ser uma exclusividade acadêmica, e passava a ser feita por quem a usava, logo se tornou um dos lugares mais populares e habitados da Internet.

Comprada em 1999, no auge da mania ponto.com, pelo Yahoo!, foi descontinuada em abril de 2009, enterrando a memória da Internet dos anos 1990. Rendeu um dos trabalhos de net art mais incríveis já feitos, One Terabyte of Kilobyte Age, um arquivo on-line dessas páginas mantido por Olia Lialina e Dragan Espenschied.

Ali está contida não só a memória do que eram os usos da Internet antes das redes sociais e blogs, mas também toda sua diversidade gráfica que de certa forma se perdeu com a padronização da web 2.0.

Casos como esses mostram que a memória cultural hoje é também uma questão econômica e um serviço. Deveria, por isso, demandar algum tipo de código ético. Afinal, cada vez mais, as memórias pessoais e coletivas, públicas e privadas, são mediadas por instâncias corporativas.

Imagine o que aconteceria se por um problema de migração de servidores, ou por deixar de ser um nicho interessante de mercado, nossas imagens, documentos, correspondências pessoais e institucionais, simplesmente desaparecem das nuvens e redes sociais onde estamos depositando boa parte de nossa vida cultural e afetiva.

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