Destaco hoje a retrospectiva Suspensão do artista paulistano Artur Lescher, em cartaz na Estação Pinacoteca.

Com curadoria de Camila Bechelany, a mostra ocupa o quarto andar do edifício e está dividida em três partes: Narrativas Líquidas, Suspensão — a sala que dá nome à mostra — e Engenharia da Memória.

Na variedade de formas que ocupam o espaço, chama a atenção a capacidade de Lescher de tensionar as relações de peso e leveza a partir da exploração dos materiais.

Isso fica patente na sala Suspensão, onde um conjunto de 30 pêndulos parece desafiar as possibilidades de equilíbrio no espaço e nos insere um território absolutamente mágico, no qual estruturas nos colocam em uma espécie de hiato do tempo e do espaço.

Os pêndulos se articulam com as colunas de ferro do edifício e criam uma paisagem paradoxalmente insólita, onde o peso das estruturas parece flutuar, criando um regime de suspensão dos corpos no ar.

É notável a relação da escultura de Arthur Lescher com a arquitetura e na sala Engenharia da Memória, isso se expande para o entorno urbano, por meio da integração das obras à paisagem, através das grandes janelas que se abrem para o exterior.

Nesse ambiente, estão reunidas obras que remontam às primeiras pesquisas de Artur com as forma elementares da arquitetura, como um grande bloco de madeira erguido por fios, da série Casa, até uma instalação, que se chama Nostalgia do Engenheiro (2014/2019), formada por dezessete objetos sobre uma base inspirada nas pinturas de Giorgio de Chirico.

Ainda aí, pode-se ver uma imensa escultura suspensa, na qual uma agulha de metal aponta para um livro de madeira de riga colocado no chão. A escultura se chama Iad, que quer dizer mão em hebraico e se refere a um instrumento de prata que é utilizado para ler os rolos sagrados da Torá.

De certa forma, essa obra faz uma passagem para a sala Narrativas Líquidas, onde se concentram os trabalhos relacionados à passagem do tempo e que fazem, também, como destaca a curadora, um contraponto à imagem orgânica da natureza.

Estão nessa sala as obras da série Rios (2004-2019), que discutem ciclos e fluxos que ao se mover apagam continuamente o passado, mas sempre utilizando materiais sólidos, como o aço e a madeira.

É uma grande retrospectiva da carreira do artista, com cerca de 120 trabalhos, e que inclui também seus cadernos de desenho e maquetes. Fica até 24 de junho, na Estação Pinacoteca, de quarta à segunda das 10 às 17h30.

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