Mapa em Realidade Aumentada traz novas dinâmicas ao jogo e problemas na relação entre público e privado
A próxima versão do Pokemon Go deve ser um mapa do mundo em Realidade Aumentada, feito pelos jogadores. É o que anunciou o presidente da Niantic, a empresa desenvolvedora do Pokemon na última quarta-feira.
A Realidade Aumentada é uma tecnologia que suplementa o mundo físico com informações, fazendo com que coexistam no mesmo espaço objetos virtuais e objetos reais. Você aponta o seu celular e revela camadas que estão associadas a lugares específicos. Essas camadas podem ser dados sobre poluição, informações históricas sobre edifícios, imóveis à venda e seu preço e até obras de arte.
O caso mais famoso, certamente, é o do projeto de Jeff Koons com o aplicativo Snapchat que levou suas obras a vários lugares do mundo e foi também a primeira obra de arte a ser pixada virtualmente, com Realidade Aumentada, por outro artista. Tudo isso só foi visto, porém por quem estava no Central Park.
Tudo isso pode parecer muito difícil de imaginar quando é descrito em palavras, mas quando se lembra do que foi a febre do Pokemon Go, há dois anos, com milhares de pessoas munidas de celulares na mão, caçando criaturinhas esquisitas que brotavam nas suas telas, nas ruas, tudo se esclarece.
Mas o desafio que se coloca agora é muito maior. Fazer um mapa do mundo 3D, ainda que só cobrindo espaços públicos, na escala do jogador, como pretende a Niantic, depende de uma capacidade de coletar e processar os dados que outras empresas, como a Apple a Google ainda não resolveram. (Muito embora a Google tenha anunciado recentemente que lançará até o fim do ano um recurso de Realidade Aumentada para ser usado no seu serviço de mapas, o Google Maps).
Experiência de jogo e privacidade
Tendo um mapa em RA os jogadores podem criar estruturas que podem ser visualizadas por outros usuários nos locais em que o jogo acontece e isso certamente enriquecerá significativamente a participação e a experiência do jogo. Mas não podemos nos esquecer que a cartografia, hoje, na era do capitalismo-plataforma, como indicou Benjamin Bratton, migrou da esfera de competência exclusiva dos Estados, para a das empresas de tecnologia que atuam nas chamadas nuvens computacionais, como a Google. E que parte desse “serviço” é delegado ao usuário, que marca no mapa os pontos de interesse e deixa lá registrado os rastros por onde passou.
O presidente-executivo da Niantic, John Hanke, que atua na área de mapeamento há muitos anos e trabalhou na divisão “Geo” da Google (Google Earth, Google Street View, Scketch Up etc), declarou da que a empresa permitirá que desenvolvedores terceirizados usem seu mapa de Realidade Aumentada, coisa que os executivos da empresa acreditam ter potencial para tornar-se um negócio multibilionário. Se levarmos em conta que, até agora, Pokemon Go teve 800 milhões de downloads, o prognóstico deve estar mais que correto.
Há ainda que se resolver além de pendência técnicas, questões éticas e legais com relação às novas dinâmicas que se impõe nas relações entre público e privado nessa nossa era pós-virtual. Um mundo em que as redes se tornaram tão presentes no cotidiano e que o processo de digitalização da cultura é tão abrangente, que se tornou anacrônico pensar na dicotomia real/virtual. Nesse contexto passa a ser mais que urgente questionar: quem coleta nossos dados, para onde vão e o que é feito desse manancial de registros acumulados.
Virtual Vandalism: Jeff Koons’s ‘Balloon Dog’ Is Graffiti-Bombed
Transcrição da coluna Ouvir Imagens de Giselle Beiguelman veiculada semanalmente pela Rádio USP.
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