Reações nas redes ao desabamento de edifício no Largo do Paissandu vão da solidariedade a discursos violentos dos grupos de ódio

O incêndio, seguido de desabamento, do edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paissandu, no dia 1o de maio, é o resultado trágico da falta de políticas públicas que tratem a moradia como um direito. Teve ampla repercussão social e midiática e mobilizou as redes desde o primeiro momento.

Desencadeou, imediatamente, articulações de grupos de apoio às vítimas, com rápidos sistemas de provimento de alimentos e campanhas de doações aos atingidos. Mas tão rápida quanto a organização dessas manifestações, foi a apropriação do fato por grupos de ódio.

Nos Estados Unidos e na Europa esses grupos defendem a supremacia branca, sendo profundamente racistas e antissemitas, e contra tudo que “fuja” ao seu “padrão de nação” – imigrantes, latino-americanos, muçulmanos, gays e minorias étnicas. Aqui em SP esses grupos se voltam contra a população mais vulnerável: sem-teto, refugiados e seus alvos expandem-se, incluindo tudo aquilo que foge ao padrão idealizado do que seria a população “genuína” da cidade: nordestinos, gays e “desocupados”.

Em eventos como a invasão da Cracolândia, em maio passado, e agora, no incêndio do prédio ocupado por cerca de 150 famílias com apoio do Movimento Luta por Moradia Digna isso fica muito claro.

Nos comentários publicados nas redes, e nas reportagens que cobriam o incêndio e o desabamento, o que salta aos olhos não é apenas a sua quantidade, mas sua virulência e violência.

São comuns as falas que expressam o desejo de ver outras minorias atingidas pelo mesmo infortúnio, o sadismo e a transformação da vítima em culpado, ocultando a corresponsabilidade do Estado e optando por criminalizar os movimento sociais.

Seguem aqui alguns comentários selecionados entre os mais populares publicados entre os dias 1o e 2 de maio no G1, Twitter e YouTube.

Invasor é pior que erva daninha, por onde passa deixa sua marca.

Criança é tudo que pobre sabe fazer, não aprendem nunca por isso vivem na miséria

Poderiam Aproveitar e Fazer um Filme, Inferno na Torre, OK?

Falta de moradia? Kkkk. Trabalhe e compre seu lugar. Não consegue? Mude-se pra um lugar onde vai conseguir comprar.

Esse povo vem do Nordeste exigir moradia do governo paulista. Voltem pra lá e peçam moradia pro Ciro Gomes e Renan Calheiros.

Um edifício invadido por parasitas malandros pegou fogo na cidade…

Calma companheiro, a culpa é dos que ocuparam o local, não vamos inverter as coisas. Quem não quer morar de graça e ainda ser sustentado por aqueles que se matam trabalhando?

Espero que sirva de lição para escorraçar as outras [famílias] que ocupam vários prédios feito esse… Pena que deu tempo de saírem…

Tá achando ruim? Abre as portas da tua casa para os sem teto morar então.

Seria melhor se estivesse cheio de venezuelanos, haitianos, bolivianos

Fizeram o serviço mal feito….esqueceram de trancar as saídas

Já são acostumado a correr kkkk

Horror absoluto. Precisamos ficar atentos antes de perder a capacidade e as condições (sociais e políticas) de travar qualquer discussão.

[Transcrição da coluna Ouvir Imagens – Rádio USP veiculada no dia 07/5]

Ouça esta coluna aqui e acesse a playlist com todos os programas veiculados desde março de 2018

Comments (1)
  1. Carlos de Souza

    maio 8, 2018 at 13:51

    Eu não tenho ódio de ninguém e tampouco estou entre os imbecis que, segundo os comentários “selecionados” pela autora, vibraram com a desgraça do Paiçandu. Todos, uns mais outros menos, são responsáveis pelo ocorrido. Mas diferente do que afirma o artigo, aqueles que comandam os chamados “movimentos sociais” e as invasões ilegais e irresponsáveis também merecem ser apenados. Não é difícil usar aquele discursinho batido, choroso e vitimista para levar os mais humildes a acreditarem que são incapazes de caminhar pela próprias pernas, tornando-se presas fácil para os oportunistas que fazem sucesso e ganham dinheiro explorando a boa-fé dessas pessoas. Quem sabe numa próxima oportunidade a ilustre autora nos brinde, também, como uma análise menos parcial ao tratar do infortúnio alheio.

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