33a Bienal de São Paulo abre as portas para o público no dia 7/9

A  33a Bienal tem como tema afinidades afetivas e a curadoria Gabriel Pérez-Barreiro reúne doze projetos individuais e sete mostras coletivas organizadas por artistas-curadores, como Waltércio Caldas e Sofia Borges. Há vários projetos inéditos e entre as obras comissionadas um me chamou muito a atenção, que é o projeto do brasileiro Bruno Moreschi, Outra 33 Bienal.

Moreschi propõe construir um arquivo de experiências que não são aquelas de um arquivo oficial da Bienal. Bruno diz que “Num futuro próximo ou distante, alguém vai estudar a 33ª Bienal e se deparar com o arquivo oficial esperado, mas também com outro conjunto de documentos resultante de nossas ações.” Com essa afirmação, Bruno contempla uma questão que nos faz pensar em um fenômeno crucial da contemporaneidade que é a ampliação dos canais e repositórios de documentação e como afetarão, no futuro, nossa compreensão do passado.

Estamos testemunhando (e fomentando) uma produção de registros sobre o nosso presente sem precedentes na história. Em um minuto são postadas cerca de 70 mil imagens no Instragam. E se você acha que é muito, estima-se que a cada 1 segundo 75 mil vídeos são vistos no YouTube. Essa massa de dados contempla boa parte do que fazemos e produzimos hoje. As grandes exposições, como já comentamos em outra ocasião, transformaram-se em um espaço convidativo para esses processos, ainda que muitas vezes pilotados por iniciativas de marketing e não propriamente culturais. O que esses registros nos contarão sobre a história das exposições no futuro? E se esses serviços deixarem de existir, o que acontecerá com esse acervo que não deixa de ser um testemunho da nossa época?

Além dessas perguntas, há toda uma nova leva de interrogações que o artista Bruno Moreschi coloca, como as interpretações feitas por sistemas de Inteligência Artificial, que não são familiarizados com obras de arte. Ele comenta um caso de um sistema que de IA que ao ler uma parede expositiva da Bienal, interpretou a situação como “vasto horizonte”. Bruno diz que “alguém pode encarar a interpretação não especializada como algo a não se considerar seriamente, como um erro. Mas que ele sua equipe pensam essas leituras como ampliações.”

Eu diria que são desafios para pensarmos o futuro da memória.

Transcrição da coluna Ouvir Imagens, de Giselle Beiguelman, veiculada toda segunda-feira, às 8:00, pela Rádio USP (93,7).

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